Enquanto mulheres de países desenvolvidos se beneficiam com o rastreamento precoce, vacinas e medicamentos, jovens de países em desenvolvimento estão morrendo mais de câncer de mama e colo de útero que há três décadas, revela artigo da revista "The Lancet". Se nada for feito, as mortes por essas doenças nos países de renda média e baixa vão superar os óbitos causados por complicações na gravidez e no parto nos próximos 20 anos.
O levantamento - feito em 187 países pelo Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington - aponta que, entre 1980 e 2010, o número de novos casos de câncer de mama mais que dobrou, passando de 641 mil por ano para 1,6 milhão: aumento anual de 3,1%. Mas em alguns países em desenvolvimento a taxa chega a 7,5% por ano. Entre as razões estão aumento na expectativa de vida, queda na fertilidade, gestações tardias e obesidade.
"A inversão do ônus do câncer de mama para o mundo em desenvolvimento está sendo sentida de forma mais aguda em mulheres que tinham tradicionalmente menos risco para a doença: aquelas em idade fértil", diz Rafael Lozano, um dos autores. Nos países em desenvolvimento, o risco de apresentar câncer de mama antes dos 50 anos mais que dobrou, afetando hoje 23% das jovens. Já nos países desenvolvidos a porcentagem caiu de 16% para 10% no período.
A mesma tendência foi verificada em relação ao câncer de colo de útero. Em termos de incidência global, essa doença cresceu num ritmo menos acentuado: 0,6% ao ano. O número de casos passou de 378 mil em 1980 para 454 mil em 2010. Cerca de 76% dos casos novos surgem nos países em desenvolvimento.
A boa notícia é que as mortes causadas por essas duas doenças está crescendo a um ritmo mais lento que a incidência de novos casos. Para os autores, isso é resultado dos programas de rastreamento do câncer e de medicamentos como tamoxifeno e raloxifeno. Esse avanço, porém, é bem mais tímido nos países em desenvolvimento, onde as mortes crescem a uma taxa anual de 2,7% para câncer de mama e 0,8% para colo de útero. A média mundial é de 1,8% e 0,5%, respectivamente. As mortes entre as mulheres em idade reprodutiva também cresceram mais nos países em desenvolvimento.
"O impacto social dessas mortes em idade fértil é brutal, pois essas mulheres são, muitas vezes, provedoras do lar", afirma Afonso Nazário, da Universidade Federal de São Paulo. Ele defende a necessidade de países como o Brasil adotarem política de rastreamento organizado para câncer de mama a partir dos 40 anos.
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