O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) foi o mais duro nas críticas, e disse que Palocci deve escolher "se deve fidelidade aos eleitores ou as empresas que o levaram a enriquecer" |
Opositores e aliados do governo defenderam que o ministro renuncie ao cargo para explicar o aumento de seus bens
Brasília. Senadores da oposição e até mesmo integrantes de partidos governistas cobraram, ontem, o afastamento do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, até que ele explique como o seu patrimônio pessoal cresceu 20 vezes nos últimos quatro anos em que foi deputado.
Em discurso na tribuna do Senado, o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) disse que o comportamento de Palocci é "incompatível" com sua função no governo. "Ele precisa escolher se deve fidelidade aos eleitores ou às empresas que o levaram a multiplicar o patrimônio por 20. Não se pode servir a dois senhores", afirmou Jarbas.
Conhecido como um dos "dissidentes" do PMDB no Senado - partido aliado da presidente Dilma Rousseff - o senador acrescentou que a Casa Civil ganhou uma "maldição na era petista", da qual apenas Dilma escapou. "Dirceu, Erenice e agora Palocci foram protagonistas de histórias obscuras e muito mal explicadas na Casa Civil", lembrou.
"Amealhar R$ 7 milhões em quatro anos não é tarefa fácil, ainda mais quando essa façanha foi executada paralelamente ao trabalho de deputado federal. Não estou falando de um simples parlamentar, mas de um dos mais importantes quadros do PT no Congresso, envolvido diretamente nos projetos e propostas mais estratégicas para o governo Lula", opinou.
Integrante da base governista, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) ressaltou que Dilma deveria seguir a conduta adotada pelo ex-presidente Itamar Franco no seu governo - quando ele afastou o então ministro da Casa Civil Henrique Hargreaves, acusado de irregularidades no cargo.
"Depois do esclarecimento, Hargreaves voltou muito mais fortalecido. Agora, da mesma forma, se poderia esperar que a presidente Dilma preste a esta Casa os esclarecimentos deste caso para não pairar nenhuma dúvida a respeito disto", disse.
O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), afirmou que há elementos suficientes para justificar o afastamento de Palocci. Na opinião do tucano, está comprovado que o ministro cometeu "tráfico de influência" ao estabelecer uma "taxa de sucesso" em sua empresa de consultoria, a Projeto.
"Em um governo sério, toda denúncia grave com consistência provoca o afastamento do denunciado até o esclarecimento cabal dos fatos", acredita.
A oposição vai tentar aprovar hoje, na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, a convocação para Palocci prestar esclarecimentos à Casa.
Jarbas afirmou que a "blindagem" governista sobre o ministro não vai calar a oposição - nem com o apoio do presidente do Senado, José Sarney, às ações do governo. "O ministro deve explicações a todos os brasileiros, ao Congresso, que não pode abdicar de suas prerrogativas constitucionais como declarou esta semana o senhor José Sarney. É poder do Legislativo convocar qualquer ministro de Estado para dar explicações", destacou o senador.
Perversidade
Para o ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, o enriquecimento de Palocci se deu "dentro da legalidade". Na avaliação dele, existe hoje uma inversão nos conceitos de Justiça no Brasil, onde, na dúvida, o réu é considerado culpado. "As execrações públicas e as condenações sem provas materializadas são uma perversidade", afirmou.
O ministro da Justiça admitiu que é um amigo próximo de Palocci e que todas as denúncias levantadas pela imprensa foram checadas por ele, antes de que saísse em defesa do colega de governo. Segundo Cardozo, Palocci não pode detalhar a relação de clientes e de ganhos da empresa devido ao contrato de confidencialidade assinado por ele, o que implicaria, no caso de divulgação, em um processo judicial contra o ministro. "Acho muito ruim, sem que nós tenhamos provas, condenarmos as pessoas", avaliou.
ATAQUES
Governo prepara-se para ´guerra política´
Brasília. O governo está convencido que não pode dar margem a novos ataques contra o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, e considera que a oposição partiu para "uma guerra política" contra o governo da presidente Dilma Rousseff, de acordo com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
Na avaliação do ministro, a presidente estava ciente de que em algum momento a oposição "trabalharia para desestabilizar o governo". Palocci, ministro mais influente no governo Dilma, virou o principal alvo depois de publicação de reportagens sobre seu aumento patrimonial por meio de sua empresa, a consultoria Projeto.
O ministro Gilberto Carvalho admitiu que as denúncias contra Palocci e a atuação de sua consultoria "atrapalham o andamento do governo".
Diante desse diagnóstico, a presidente decidiu abordar o caso do ministro na reunião de coordenação política de ontem, da qual participam ministros que despacham no Palácio do Planalto e o vice-presidente Michel Temer.
Uma fonte do Palácio, que pediu para não ter seu nome revelado, afirmou que Dilma ordenou aos aliados que saiam em defesa explícita do principal ministro do governo e que não dêem terreno para a oposição no Congresso.
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