quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MORRENDO DE RIR

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 Como todos sabem, velórios e enterros servem para unir as famílias e em muitas vezes para reencontrar parentes e amigos que não se encontram há muito tempo. Inclusive aqueles parentes que só se vêem nessas ocasiões, cujo momento é próprio para se atualizar as informações familiares, como: comunicar casamentos, nascimentos e separações.
     Nessas datas é que descobrimos se nossos entes queridos estão bem de vida, se faliram, ou se houve algum escândalo familiar. Descobrimos quem esta mais gordo e careca, ou até quem fez alguma plástica recente, é ótimo! É um evento incrível que serve não só para a despedida de quem se vai, mas para o reencontro de quem fica. É o maior acontecimento familiar. Uns badalados, sofridos, comentados... Outros decepcionantes, com quórum baixo, uma verdadeira chatice. Mas, sem dúvida todos eles marcantes!
     Eu tinha até certa aversão por esses acontecimentos mórbidos, mas depois deste episódio que vou lhes contar, penso diferente. Vamos aos fatos:
     Era uma vez uma irmã de criação muito distraída, de nome Violeta.  Ela morava longe e há algum tempo não via a família. Um dia a avó, veio a falecer e o velório foi informado a todos. Para a família não era um grande acontecimento, pois ela já era bem idosa e doente, sendo assim a morte já era esperada. O velório foi marcado para as 09 horas, mas como Violeta morava longe, preferiu chegar cedo.
    Chegando ao local, entrou em um corredor que dava para as pequenas capelas, onde se velavam os corpos. Sem óculos, nossa Violeta viu apenas uma capela aberta e uma grande movimentação. Ela se dirigiu para lá na certeza de se tratar do velório de sua avó. Antes de entrar ela olhou para o corredor lateral e viu um pouco adiante a tia Juju, uma idosa que também morava longe, sentada em um banco na frente de uma porta fechada. Essa tia quando a viu acenou com a mão chamando-a, mas ela retribuiu o aceno pedindo para ela esperar, pois olhando para dentro da capela cheia viu uma moça chorando que achou que fosse uma de suas irmãs de criação e adentrou na única capela aberta.
     O cenário era incrível, muita gente, muito choro, lágrimas e muitas flores. Coroas de todo o tipo com mensagem das mais variadas. Ela achou aquilo incrível, nunca tinha visto tanta gente reunida em nenhum dos aniversários da falecida. De repente se viu abraçada com a tal moça, que de perto nem era assim tão parecida com sua irmã, mas a moça chorava tanto abraçada com ela que ela se emocionou e ficou ali vários minutos abraçada e chorando com ela . Quando a “irmã” a soltou, ao lado dela outra moça que parecia ser uma prima distante a abraçou também e novamente ficaram as duas durante alguns minutos abraçadas e chorando. E assim foi; Violeta percorreu toda a capela abraçando um a um, chorando e lamentando.
    Os olhos embargados de lágrimas e a emoção do ambiente não a deixavam avaliar bem quem ela estava abraçando, mas se estavam ali, eram familiares e amigos. Quando ela terminou de cumprimentar todo mundo ela olhou em volta e não viu algumas pessoas importantes, como a mãe e a outra irmã... Imaginou que elas pudessem ter ido tomar um ar. Achou estranha também tamanha comoção das pessoas. Na verdade algumas estavam até desesperadas... “Que estranho... A vó Maria já era tão velhinha, por que será que as pessoas estão tão descontroladas?” Pensou. Quando ela olhou para a porta viu a tal tia que também morava longe a acenar para que ela fosse lá para fora ao encontro dela, e novamente ela devolveu o aceno para que ela esperasse, afinal ela ainda não tinha feito à oração junto ao caixão.
   Chegando ao caixão ela colocou as mãos nos olhos e começou sua oração mental. De repente, levantando levemente a mão e olhando discretamente por debaixo dos dedos pode ver... Flores! Apenas flores! “Nossa estou rezando nos pés, que coisa horrível”- pensou.
    Sendo assim dirigiu-se para a outra extremidade do caixão e começou novamente a rezar. Novamente fazendo um discreto movimento, levantou de leve as mãos para que os seus olhos pudessem ver o rosto da falecida... Mas, novamente flores! “Como isso é possível?”- pensou. Assustada ela olhava para cima e para baixo e só via flores. Seu rosto percorria de um lado ao outro do caixão, mas só via flores. “Porque será que cobriram a vó Maria toda?” - pensou.
Ela olhou para o lado assustada com uns gritos desesperados de um rapaz desconhecido. Ele estava inconsolável. Com mais calma ela olhava em volta e só via gente desconhecida. Muitos jovens carregando flores. “Mas o que esta acontecendo aqui?” - se perguntou. “A vó Maria quase nem tinha mais amigos, que dirá tantos amigos jovens”.
   Aquilo foi começando a dar uma aflição no peito dela, mas o constrangimento era tão grande que ela não conseguia dar um passo. Ela não estava conhecendo ninguém que pudesse perguntar o que afinal estava acontecendo. De repente ela se lembrou da tia Juju e saiu de fininho, mas antes ainda foi abraçada por mais duas jovenzinhas aflitas com a perda. Chegando ao corredor a tia Juju apressou-se a perguntar:
- Violeta! O que você foi fazer naquela capela?
- Ué, fui velar a vó Maria.
- O corpo da Maria esta aqui nesta capela fechada, ainda não abriram, nós é que chegamos cedo... E eu doida para você sair de lá para vir me fazer companhia e você não parava de chorar abraçada com aquelas pessoas.
Violeta caiu sentada no banco, de preta tinha ficado branca.
Tia Juju continuou estendendo o jornal para ela:
 - Aquele velório é de um jovem universitário que morreu esta madrugada vítima de um desastre de carro, saiu até no jornal. Por isso é que esta todo mundo tão desesperado. E os jovens são os amigos da faculdade. O pobrezinho ficou tão deformado que nem se pode mostrar o rosto. Esta tudo ai no jornal, pode ler!
Violeta teve uma crise de riso tão forte que algumas pessoas chegaram a botar o rosto fora da capela para ver o que estava acontecendo.
Conforme os parentes da vó Maria iam chegando, a história ia sendo contada, e ao invés de chororo, só houve risada. Durante todo o velório da vó Maria, que teve um quórum baixíssimo, Violeta ficou escondida no fundo da Capela com medo de alguém que ela abraçara do outro velório viesse falar com ela.
Diante desta história, que lhes garanto ser verídica, cheguei a uma conclusão: Abraçar e chorar é só começar, mas, por favor, levem os óculos no próximo velório tá?
 
Dyandreia Portugal

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