segunda-feira, 4 de outubro de 2010

UMA QUESTÃO DE TEMPO…

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“No início da vida eu tinha tempo e disposição, mas me faltava dinheiro. Com o passar dos anos, consegui dinheiro. Aí juntei minha disposição ao dinheiro que ganhei, mas o tempo me faltou. Agora, com muito dinheiro e com todo o tempo do mundo não tenho mais disposição pra coisa alguma.”
Esse provérbio árabe que meu avô declamava orgulhosamente sempre foi motivo de inquietação em minha vida.
Que situação mais triste é essa de se ter que abrir mão de uma coisa para conseguir uma outra, de se ter que perder para ganhar, afinal?
Fiquei pensando se Deus não estava sendo muito cruel conosco. Porque será que não nos é permitido manter tudo o que vamos conseguindo, acumulando nossas vitórias, nossa cultura, assim como nossas moedas, crescendo sempre? Por que haverá sempre no ar essa angústia do “não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe,” como a nos lembrar eternamente de nossa condição humana de sofrer acima de tudo? Mais cruel ainda - em se tratando do triste provérbio oriental - é quando o indivíduo perde a sua disposição antes de conseguir o dinheiro e não chega a ter tempo a não ser para reclamar da sua falta de sorte.
Certa vez, escrevendo sobre meu amigo Quim Pessanha, ex prefeito da cidade de Quissamã, eu o chamei de “Rei do Tempo.” Parecia que o meu amigo conseguia um dia de mais de quarenta e oito horas para levar a cabo inúmeras funções nos mais distantes pontos do planeta, como Ipanema, Macaé, Cabo Frio e Quissamã, fazendo odontologia aqui, política ali, eventos acolá, obras na sua linda fazenda, e isso tudo com a maior serenidade, sem stress ou nervosismo, essas coisas que me acometem quase sempre.
Finalmente, vi a luz. Certo dia, eu, que ainda me encontro na primeira fase do tal provérbio em termos do dinheiro mas na segunda em termos do tempo, estava apreciando minha netinha Mariana brincando com nossos cachorros no quintal. Vi o futuro brilhando nos olhinhos dela e senti que tinha feito parte daquele milagre. Vi a grandeza de minha obra, uma coisa que o velho e amargo árabe não cita em seu empolado discurso. Vi que eu jamais perderia a disposição, indiferentemente do fato de conseguir o vil metal e o tempo de ócio.
Com toda a certeza, aquele pobre-rico árabe não deve ter tido netos! 
Tony Fonseca é Jornalista, Professor e Escritor, Apresentador do Programa Bem-Vindo ao Paraíso, Lagos TV canal 7 sextas feiras às 15 Horas

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