domingo, 14 de novembro de 2010

Lobby da indústria afeta SUS, diz Anvisa

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Segundo pesquisa da Anvisa, gestores de saúde e médicos são influenciados por meio de propagandistas e brindes.
37,7% dos médicos dizem que podem sofrer influência e 67% levam em conta a divulgação na hora da prescrição
A indústria farmacêutica influencia decisões dos gestores e dos médicos das unidades básicas de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde). A conclusão é de uma pesquisa da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), financiada pelo FNS (Fundo Nacional de Saúde).
O estudo, obtido com exclusividade pela Folha, envolveu entrevistas com mais de 700 médicos, gestores e responsáveis pelas farmácias dos SUS de 15 capitais brasileiras. Entre os gestores, 75% relataram que recebem visitas mensais de representantes da indústria farmacêutica -só 15% deles são visitados por fabricantes de genéricos. 
Em relação à interferência da propaganda na prescrição de drogas, 37,7% dos médicos admitem que podem ser influenciados por ela. Outros 67% afirmam considerar as informações das propagandas na hora da p rescrição.
A partir desse retrato, a Anvisa, o Ministério da Saúde e os conselhos de secretários de saúde devem desenvolver ações no sentido de restringir essa influência, mas ainda não há definição de quais serão.
A distribuição de brindes que divulgam o nome de um determinado remédio é a estratégia mais usada pela indústria entre os gestores, o que contraria norma brasileira que permite a oferta de brindes desde que não veiculem propaganda de drogas.

ASSÉDIO
Embora a compra de medicamentos no SUS envolva comissões compostas também por outros profissionais, como secretários de finanças dos municípios, a Anvisa está convencida de que o assédio rende frutos à indústria.
"Se tem esse esforço da indústria [visitas e distribuição de material], é porque tem repercussão favorável a eles. Essa relação próxima confunde todo processo de seleção de medicamento", afirma Maria José Delgado, geren te-geral de monitoramento de propaganda da Anvisa.
Para Nelson Mussolini, do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo), a propaganda é "ética e legítima". "O material promocional é a única forma de divulgar os medicamentos, já que a propaganda na mídia é proibida no país."
Entre os médicos, 41% recebem visitas de propagandistas no trabalho. Dos entrevistados, 64% têm consultório particular.
Para Roberto D'Avila, presidente do Conselho Federal de Medicina, o assédio acontece porque, quando faltam medicamentos no SUS, os pacientes são orientados pelos médicos a comprar fora.
"Na rede privada, estamos cansados de saber que há influência [da indústria]. Só não sabia que o assédio estava tão disseminado na rede pública", diz D'Avila.
Folders, amostras grátis e artigos científicos favoráveis ao remédio são a estratégia preferida com os médicos. Brindes e outras cortesias respondem por 9%.
Em 45,6% das propagandas não aparecem informações sobre efeitos colaterais da droga. "É perigosíssimo. A Anvisa tem que fiscalizar e punir", diz D'Avila.
Mussolini, do Sindusfarma, diz que a Anvisa já pune as indústrias que deixam de lado essas informações "por algum descuido".

Propaganda exerce influência, mesmo que inconscientemente

Médicos são médicos em qualquer lugar que trabalhem. E, hoje em dia, eles trabalham em vários lugares. De acordo com uma pesquisa feita pelo Datafolha em 2007, 32% dos médicos paulistas acumulavam quatro ou mais empregos, contra 18% que tinham um único vínculo.
É raro, portanto, que um médico do SUS trabalhe só para o SUS. Assim, do ponto de vista da indústria, não faz muita diferença se seu representante é recebido pelo profissional em hospitais públicos ou consultórios privados. 
Embora a maioria dos médicos tenda a negá-lo, o fato de receberem brindes exerce influência sobre suas prescrições. Não se trata, é claro, de um processo consciente. Ninguém em juízo perfeito receitaria algo sabidamente pior para o paciente em troca de uma canetinha.
O que a literatura mostra é que a propaganda e os presentes oferecidos pelos laboratórios funcionam bem.
Numa metanálise clássica publicada em 2000 no "Jama", Ashley Wazana concluiu que a distribuição de itens como brindes, amostras grátis, refeições, viagens e simpósios têm indiscutível efeito sobre as atitudes dos médicos e suas prescrições.
Pagar uma viagem para um profissional, por exemplo, aumenta entre 4,5 e 10 vezes a probabilidade de ele receitar ao pacientes as drogas do patrocinador.
Esse marketing é tão eficiente que se estima que, nos EUA, os laboratórios a ele dediquem cerca de 25% de seus orçamentos, contra apenas 13,4% destinados à pesquisa.


CLÁUDIA COLLUCCI / HÉLIO SCHWARTSMAN

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Equipe A.R.C.A.
Capacitação, Prevenção, Palestras, Capacitação, Tratamento
e Acompanhamento Terapeutico em Dependência Química - 12 passos
Tadeu Assis - Coordenador
Tel.: (22) 2643.9399 (22) 9914-3450

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