segunda-feira, 15 de novembro de 2010

POR TONY FONSECA

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Tidici, o bem-te-vi...

Parecia um saquinho de plástico, pulando-rolando ao vento à frente do carro da minha esposa numa rua de terra de Rio das Ostras. Apurando a vista, Jussara viu que era um filhotinho de bem te vi, talvez caído de algum ninho pronto para virar um passarinho esmagado debaixo de um pneu qualquer.
Foi levado para casa. A duras penas, aprendemos a alimentá-lo, o que ele exigia umas três ou quatro vezes por dia, aos gritos e, em pouco tempo, pousando em nossas cabeças e gritando até que o enchêssemos o papo de ração de primeira linha na ponta de uma colherinha misturada cuidadosamente à água mineral. Em pouco mais e três semanas, Tidici (este o nome que lhe coube pelos gritos que tão bem sabia dar) criou as penas que lhe faltavam quando o encontramos. Seus vôos ficaram mais firmes e graciosos. Ia da cozinha para a sala, para o quarto, voltava à cozinha e entrava, pelo teto da gaiola até a próxima hora da refeição. Jamais o prendemos. O teto da gaiola fora arrancado no mesmo dia em que a compramos. Havia também o poleirinho, do outro lado da cozinha que ele alternava com a gaiola dependendo de sua vontade de descansar ou esperar apenas a nova sessão de alimentação.
Nós nos preocupávamos a cada dia que passava. Tidici iria embora assim que conhecesse o mundo exterior? Não estaríamos, em o mantendo conosco, fazendo com que confiasse nas outras pessoas? Será que não estaríamos enganando o instinto natural que tanto protegem os animais selvagens que convivem com seres humanos por algum tempo?
Por fim, ontem mesmo, a resposta da própria natureza se fez sentir. Depois de ficar pousado no peitoril da janela da sala por alguns minutos, ao ouvir o cantar de outros pássaros nas árvores da rua, Tidici experimentou definitivamente suas lindas asas. Primeiro pousou hesitante na acácia. Como eu já o conhecia tão bem, pude notar que seu coraçãozinho estava acelerado. Olhava para mim à janela e para o mundo lá fora, de onde não deveria ter saído. Num momento que me pareceu interminável, tomou sua decisão e, ajudado pelo vento sudoeste numa rajada mais forte alçou vôo.
Se fosse uma história do Walt Disney ele iria voltar, casado com uma linda e desconfiada fêmea acompanhado de uns cinco ou seis bebezinhos para nos apresentar...e todos seríamos felizes para sempre...
De qualquer jeito, guardamos a gaiolinha sem teto e o poleirinho na cozinha. Da mesma maneira, cada vez tomamos mais atenção com o lixo levado pelo vento nas ruas da cidade. Quem sabe, Tidici espalhou lá pelo mundo dele que ainda existe gente como nós, amigos dos pássaros caídos de ninho, que os protegerão até que eles possam voltar para a natureza. E, se você tiver muita sorte, mas muita sorte mesmo, pode ser visitado por um lindo pássaro que, sem medo de você, pousará na sua cabeça pedindo comida ou carinho. Deverá ser Tidici. Trate-o com carinho. Alimente-o, e quando ele for embora beije-o e diga que nós o amamos.

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